quinta-feira, 5 de setembro de 2013

A Criança - Capítulo 8




                               Capítulo 8 - Estranha



Era um dia um tanto chuvoso, Isabelly e Kathe esperavam por Jessica da porta da escola, estavam de mãos dadas, mas assim que Katherine avistou sua mão, soltou das mãos da outra e correu na chuva em direção a sua mãe. 
De dentro da escola Marcos as observava, pensando na vida que poderia ser dele, na família que ele poderia ter. Jess sempre fora uma mulher incrível.

- Oi Marcos! – Gritou Jess saindo da chuva em direção a ele com Kathe no colo.
- Oi Jess! Sua filha foi magnífica no primeiro dia, ela é uma criança muito inteligente.
- Ah que bom, os professores comentaram alguma coisa de Isabelly? – perguntou ela olhando para a garota que brincava com uma estátua passando da porta da escola.
- A professora dela disse que ela se destacou no primeiro dia, sabia tudo o que perguntava, mas que não fez muita amizade com sua turma, parece que ela é muito sozinha.
- Tadinha, mas isso é normal, ela apareceu do nada, ninguém sabe de onde veio, vai saber pelo que essa criança passou não é, e sozinha ainda.
- Pois é, mas e me diga, quando vamos sair para tomarmos um café, conversarmos, você precisa me contar tudo o que aconteceu em sua vida depois de minha partida.
- Claro Marcos, por que não? – Falou Jess sorrindo.
- Mamãe, vamos embora!
Isabelly chegou por trás dos dois, fazendo-os pularem de susto, a menina parecia muito brava com algo. Talvez fosse a chuva, pensou Marcos.
- Claro, vamos sim! – Jessica se despediu um pouco sem graça de Marcos, e seguiram até seu carro, elas iriam passar na casa de Carmen, avó de Kathe. Coisa que Isabelly não gostou nada de saber.

Ao chegarem lá, a primeira coisa que Isabelly recebeu desta foi um olhar muito zangado, Carmen não gostava nada da pobre menina.
As duas pequenas subiram para o segundo andar da grande casa no centro da cidade, ela era enorme, branca e com uma sacada que proporcionava uma bela vista da janela do quarto de Carmen, as meninas chegaram ao quarto dela, Katherine pulou sorrindo na cama, Isabelly começou a andar em volta, observando tudo, desde os remédios desta até andar ao banheiro. Chegando lá, ela se deparou com uma prateleira cheia de cremes e óleos, um sorriso se formou em seus lábios finos.
Ela andou até um óleo corporal, e o pegou, Katherine a chamou da porta.
- Belly, vamos, mamãe chamando!
A menina se retirou, mas não antes de espalhar todo o vidro de óleo pelo chão do banheiro.

As meninas desceram as escadas de mãos dadas, sorrindo, mas ao passar pela vó de Katherine, Isabelly desmanchou o sorriso e falou com aspereza.
- Vamos? – olhando somente para Jess.
Essa que sorriu e acenou para a sogra, se retirando.

Enquanto voltavam para casa o clima era pesado dentro do carro, Jessica queria entender melhor aquela menina que apareceu de repente na vida deles, queria entender o porquê de ser antissocial, o porquê de a menina não gostar de sua sogra ou de Marcos, professor de Kathe, ela era uma menina estranha, mas que necessitava de carinho. Era a única coisa que ela sabia.

Logo que chegam a casa Isabelly foi até o quintal, era a parte que ela mais gostava da casa, pensava Jess, ela sentou-se no balanço, sozinha, e fitou a lagoa agora em um azul escuro, lembrando a noite, e cantarolava baixinho.
- La la... la... la... Não vou deixar, la... la...
Veio a sua mente imagens turvas, difíceis de divulgar, talvez fosse um animal sendo espancado, ou uma criança, tinha gritos, um objeto cheio de sangue, era uma faca, gritos, um grito bem conhecido, até que se ouviu Jessica chamando Isabelly para almoçar.
- Isabelly! Venha, o almoço vai esfriar!
Isabelly se esqueceu das imagens, andou normalmente até a mesa posta para as três e sentou-se. Comeram normalmente depois Isabelly ajudou Jessica com a louça e as três subiram para o andar superior da casa.
 Jessica foi arrumar o banho de Kathe enquanto as duas pequenas brincavam no quarto da mais nova.

No momento que Katherine olhou para a irmã estranha, esta sorriu, sorriu vendo a cena que se passava na cidade, a quilômetros dali.

Carmen entrava nua no banheiro de sua casa, colocara o roupão pendurado no local das toalhas e entrou no box. Ao pisar, sentiu o chão escorregadio, não deu tempo nem de pensar em se segurar, já estava tombada, sentindo seu osso do tornozelo direito e do pescoço estar fraturado.
A última coisa que sentiu antes de apagar foi um cheiro bem conhecido, de seu óleo corporal de banho.
Os olhos de Isabelly ficaram negros após ver as cenas de sua ‘’avó’’ caída no banheiro, Jessica veio até o quarto e pegou Kathe em seu colo, levando-a até o banheiro.

Depois de dar o banho na Kathe, Jess sentiu que alguém a observava, olhou para a porta do banheiro e não viu ninguém, nesse mesmo instante, uma imagem assustadora, uma criança, se arrastava pelo corredor ali do lado, levantava a cabeça às vezes, para ver se alguém estava a vendo, e seguia se arrastando, gemia, choramingava, fortemente, mas nada era audível ou visível aos olhos de algum ser que não fosse capaz de ver, que não tivesse a liberdade para enxergar aquilo.
Desceu as escadas naquela mesma posição, foi até a porta da frente e por lá saiu, pela grama molhada pela chuva que caia lá fora, deu a volta na casa, deixando seu vestido branco como algodão cada vez mais sujo, chegou próximo do lago e parou, olhou de um lado para o outro e soltou mais uma vez um gemido, mais parecia um choro agudo.

Jessica saía do banho com Kathe em seus braços, quando, antes de entrar no quarto da pequena se deparou com uma imagem assustadora, Isabelly estava parada a porta, olhando as duas com seus olhos praticamente negros, e sua roupa de dormir que dava a impressão de estar pesada, de tanto barro e folhas que nela estavam grudados.
- Isabelly, o que você...
- Nada! – Respondeu ríspida a menina.
Apenas deu as costas para sua mãe e voltou a seu quarto.

Jessica vestiu Katherine e depois de colocar ela para dormir foi até o quarto de Isabelly saber o que era aquilo, mas encontrou apenas uma criança limpa dormindo tranquilamente em seus sonos profundos, não teve coragem de acordar a criança que ali dormia. No dia seguinte ela conversaria com ela, pois não era certo sair na chuva e se sujar daquele modo e não falar a verdade.


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